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23 de nov. de 2010

29 de set. de 2010

AVISO AO 8º E 9º ANOS: URGENTE

8º E 9º ANOS: Não deixem de ler o regulamento que encontrarão aqui . Imprimam a ficha de inscrição no final do regulamento bem como providenciem os documentos solicitados o mais rápido possível

26 de set. de 2010

Brasil com P - GOG Part. Maria Rita - Cartão Postal Bomba!!!

1ª Série do Ensino Médio


Para além de toda problemática que o vídeo aborda, percebam o excelente trabalho com a figura de linguagem que temos estudado: a aliteração.
 

12 de set. de 2010

Outros trechos de Rachel de Queiroz

“Sim, venho-me esquecendo de dizer a quem Rosa ama... Usa dólmã vermelho, casquete com fitas... Senhor, é um fuzileiro naval. Como poderia Rosa resistir àquele dólmã cor de sangue, àquela astúcia de homem corrido no mundo, àquele  ar marcial”. (In: Rosa e o fuzileiro ─ crônica ─ fevereiro/1945)

“... a túnica cor de sangue, a calça branca engomada e o casquete matador, posto de lado no cabelo partido, com as fitinhas pretas tremulando no ar, aos rodopios da valsa. E nem o par da rainha, o presidente do clube, tinha um decido sequer do airoso aprumo do par da princesa ─ tudo de acordo com a ordenança militar: barriga pra dentro, peito saliente e olhar terrível”. (In: A princesa e o pirata ─ crônica ─ novembro/1947)

“Não me esqueço de certo dia em que eu ia atravessando a Rua do Ouvidor e um garboso fuzileiro naval cruzou comigo. Para surpresa minha o militar, ao me ver, parou, fez continência, depois arrancou o gorro de fitinhas, ergueu a mão no ar quase numa saudação fascista e disse naquela voz cantada da minha terra, que só de ouvi-la me aperta o coração de saudade: ─ Abença, madrinha Rachelzinha!” (In: O senhor São João ─ crônica ─ junho/19444).

O eterno "Batalhão Naval" - Raquel de Queiroz

Nos Estados Unidos, quando uma situação dá nó cego, quando não se vê saída, diz-se que “está na hora de chamar os fuzileiros”. Os fuzileiros são o derradeiro recurso, a suprema salvação nas horas de perigo.
Aqui no Brasil também é assim. A última palavra cabe sempre ao fuzileiro. Se a batalha parece perdida ─ apela-se para o fuzileiro. Se o desembarque é impossível ─ calma, os fuzileiros desembarcam assim mesmo. Se é preciso uma coragem sobre-humana ─ os fuzileiros têm essa coragem. Arma de fogo ou arma branca, embarcado ou em terra firme fuzileiro briga. E o fuzileiro resolve.
Neste nosso país onde ninguém se preocupa muito com tradições, abre-se uma exceção para os fuzileiros. Eles são uma tradição viva, amada, indispensável. Têm já os nossos fuzileiros 150 anos de vida que neste mês de março de 58 comemoramos. E pode-se dizer que têm a mesma idade da nação, pois todos sabem que a soberania brasileira começou a funcionar 14 anos antes da independência, quando aqui desembarcou o Príncipe Regente, trazendo consigo toda a sua corte e a máquina do governo. Promovido a sede da monarquia, ninguém poderia mais chama o Brasil de colônia. O grito do Ipiranga foi, realmente, apenas a declaração formal, que vinha ratificar uma situação de fato. E sendo assim, mais um ponto se conta a favor dos fuzileiros: não serviram nunca como tropa colonial. Nunca foram instrumento de tirania da Metrópole para esmagamento de brasileiros. Ao contrário, sempre que lutaram foi contra o inimigo externo, começando muito cedo esse ofício de escudo da Pátria; tinha então Brigada Real da Marinha apenas seis meses de existência, e já os fuzileiros lutavam pelo Brasil na Guiana Francesa.
Distinguindo-se pela sua farda à velha moda, desdenhando as cores neutras com que os soldados modernos se camuflam ─ a alegre túnica vermelha, o gorro branco com o seu laço de fita preta, ─ o fuzileiro em dia de gala é mais bonito até que um general com todos os seus bordados. É a tropa mais conhecida, a mais celebrada do país. Não há guerra sem fuzileiro ─ mas sem fuzileiro não há festa, também. Pode-se imaginar uma parada de 7 de setembro sem o desfile dos navais e, acima de tudo, sem a música da banda dos fuzileiros, que é a mais famosa de todas as nossas bandas militares? E pode haver festa da Penha, pode haver domingo em Paquetá, sem a presença dos rapazes do Batalhão Naval? Ai, a tradição galante dos fuzileiros é tão antiga e arraigada quanto a sua tradição guerreira. Que o digam as gerações sucessivas de corações feridos ─ brancas, morenas e cabrochas ─ que vêm padecendo 150 anos de penas de amor por culpa desses tiranos de casaco vermelho!
Falei com o Batalhão Naval. Eles hoje se chamam oficialmente de “Corpo de Fuzileiros Navais”. Aliás é curioso assinalar , como, neste século e meio de vida, mudaram de nove os fuzileiros. Chamaram-se a princípio de Artilheiros da Brigada Real da Marinha. Já no Império, passaram a Imperial Brigada de Artilharia da Marinha e em seguida a Corpo de Artilharia da Marinha. Mais tarde usaram o nome que têm agora: Corpo de Fuzileiros Navais. Na guerra de Rosas já eram apenas Batalhão Naval. Voltaram a Corpo de Infantaria da Marinha, e logo em seguida novamente a Batalhão Naval, e Regimento Naval. Até que em 1932 fixaram-se no nome que têm atualmente e parece ser o definitivo. Mas podem variar as denominações oficiais. Para o coração do povo, que o adora, será sempre o “Batalhão Naval”, cantado até nos sambas.
Não esqueço minha surpresa ao descobrir, num pequeno porto fluvial à margem do velho São Francisco, um quartel da Marinha, construído em formato de navio, e ao portão, de sentinela, um fuzileiro.
Interpelei o naval:
─ Gente, que faz aqui um fuzileiro, tão longe da pancada do mar?
E o sentinela respondeu sorrindo:
─ Não tem mar mas tem rio, dona. Fuzileiro é bicho de qualquer água!
Não houve uma luta, nestes 150 anos de Brasil, em que sangue dos fuzileiros não corresse ─ e na linha de frente. Começaram em 1808, na Guiana, segundo já foi dito. Depois foram as guerras da Independência. A campanha do Rio da Prata. A guerra de Oribe e Rosas. Cisplatina, Paraguai, do começo ao fim. Mas para que entrar em discriminações Quem quiser saber a história dos fuzileiros navais, não precisa consultar nenhum livro especial, Basta ler a História do Brasil.




10 de set. de 2010

9 de set. de 2010

7 de set. de 2010

8º E 9º ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Leia mais sobre Rachel de Queiroz aqui:

5 de set. de 2010

Vida Maria

Para saber mais, clique aqui.

Literatura | Centenário Rachel de Queiroz a dama sertaneja das letras

Literatura | Centenário Rachel de Queiroz a dama sertaneja das letras

Sobre Rachel de Queiroz

8º e 9º ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL




 RETIRADO DE:http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=12109 Revista Língua Portuguesa - 08/2010 - Edição 58    


Marcílio Godoi



"Na verdade, eu não gosto de escrever e, se eu morrer agora, não vão encontrar nada inédito na minha casa."

(Rachel de Queiroz, aos 90 anos)
Rita de Queluz foi o pseudônimo escolhido pela jovem Rachel de Queiroz para assinar uma carta ironizando o jornal O Ceará, em 1927, por promover o concurso "Rainha dos Estudantes". Três anos mais tarde, já professora substituta de História, foi eleita "Rainha dos Estudantes", com a presença do governador do estado e tudo.
Desenhar Rachel é não perder de vista O Quinze, seu mais importante trabalho, escrito aos 20, em 1930, enquanto se curava de uma suspeita de tuberculose. O fundo social e realista desse seu precoce retrato da miséria e da seca de 1915 rendeu a ela prêmios e o posterior fichamento como "agitadora comunista" pela polícia política de Pernambuco.
Foi trotskista, mas desistiu da esquerda radical, chegando até a se posicionar a favor do golpe militar em 1964, quando era cronista da importante revista O Cruzeiro. Primeira mulher na ABL, ouviu pelo rádio a notícia da morte de seu conterrâneo, o ex-presidente Castelo Branco, em um desastre aéreo pouco depois de se despedir dele na porta de sua fazenda, "Não me Deixes", em Quixadá, nos sertões cearenses.
Arquiteto e jornalista, autor do Pequeno Dicionário Ilustrado de Palavras Invenetas (Sagui, 2007)www.memoeditorial.com.br

30 de ago. de 2010

Imagino, logo existo



Olhando pela janela em um dia tedioso, constatei que meu mundo é limitado. Percebi que não conheço todas as pessoas, não fui a todos os lugares, não vivi todos os tempos. Tais coisas só me são possíveis ao sabor da imaginação.
Às vezes sinto inveja do vento. Imagine como seria poder voar pra onde quer que seja, admirar qualquer paisagem, sussurrar ao ouvido de qualquer desatento. Meu mundo não seria limitado. Eu seria apenas uma leve brisa soprando ao acaso, despretensiosamente.
Mas já que não posso viver tudo que o mundo proporciona a ser vivido, permaneço imaginando. Pois a imaginação é como o vento. São ambos grandes maestros desta confusa e magnífica orquestra chamada universo.
Agora retorno ao início, ao momento em que olhava pela janela, e vejo o quanto eu estava enganada. Meu mundo não é limitado, pois detenho em minhas mãos a chave que abre todas as portas. Imagino, logo existo.

Francyne Alves, turma 801.

17 de ago. de 2010

Prorrogado o prazo!

O Comitê que organiza a Olimpíada prorrogou a entrega dos textos até sexta-feira, 20/08. Em virtude disso, você ainda pode mandar seu texto até amanhã, para o meu e-mail: m1motta@hotmail.com.

Abraços

Katia Motta

15 de ago. de 2010

Olimpíada de Língua Portuguesa

Está chegando ao final o prazo para postagem dos textos. Aguardo seu texto até amanhã, 10:00h, prazo final! Olhem as postagens de agosto, desde a primeira, que apresenta slides sobre o gênero crônica. Depois, veja os vídeos sobre o Rio e leia algumas crônicas para inspirar.
No site www.escrevendoofuturo.org.br você encontra todas as informações sobre o concurso.

Aguardo seu texto!

Katia Motta

11 de ago. de 2010

Crônicas sobre o Rio

O Carioca é. Antes de tudo. Millor Fernandes


Os paulistanos(!) que me perdoem, mas ser carioca é essencial. Os derrotistas que me desculpem, mas o carioca taí mesmo pra ficar e seu jeito não mudou. Continua livre por mais que o prendam, buscando uma comunicação humana por mais que o agridam, aceitando o pão que o diabo amassou como se fosse o leite da bondade humana. O carioca, todos sabem, é um cara nascido dois terços no Rio e outro terço em Minas, Ceará, Bahia, e São Paulo, sem falar em todos os outros Estados, sobretudo o maior deles o estado de espírito. Tira de letra, o carioca, no futebol como na vida. Não é um conformista -- mas sabe que a vida é aqui e agora e que tristezas não pagam dívidas. Sem fundamental violência, a violência nele é tão rara que a expressão "botei pra quebrar" significa exatamente o contrário, que não botou pra quebrar coisa nenhuma, mas apenas "rasgou a fantasia", conseguiu uma profunda e alegre comunicação -- numa festa, numa reunião, num bate-coxa, num ato de amor ou de paixão -- e se divertiu às pampas. Sem falar que sua diversão é definitivamente coletiva, ligada à dos outros. Pois, ou está na rua, que é de todos, ou no recesso do lar, que, no Rio é sempre, em qualquer classe social, uma open-house, aberta sob o signo humanístico do "pode vir que a casa é sua".
Carioca, é. Moreno e de 1,70 metro de altura na minha geração, com muitos louros de 1,80 metro importados da Escandinávia na geração atual, o carioca pensa que não trabalha. Virador por natureza, janota por defesa psicológica, autocrítico e autogozador não poupando, naturalmente, os amigos e a mãe dos amigos -- ele vai correndo à praia no tempo do almoço apenas pra livrar a cara da vergonhosa pecha de trabalhador incansável. E nisso se opõe frontalmente ao "paulista", que, se tiver que ir à praia nos dias da semana,vai escondido pra ninguém pensar que ele é um vagabundo.
Amante de sua cidade, patriota do seu bairro, o carioca vai de som (na música), vai de olho (é um paquerador incansável e tem um pescoço que gira 360 graus), vai de olfato (o odor é de suprema importância na fisiologia sexual do carioca).
Sem falar que, em tudo, vai de espírito; digam o que disserem, o papo, invenção carioca, ainda é o melhor do Brasil, incorporando as tendências básicas do discurso nacional: o humanismo mineiro, o pragmatismo paulista, a verborragia baiana.
E basta ouvir pra ver que o nervo de todas as conversas cariocas, a do bar sofisticado como a do botequim pobre e sujo, por isso mesmo sofisticadíssimo, a do living-room granfa, a da cama (antes e depois), é o humor, a crítica, a piada, a graça, o descontraimento. Não há deuses e nada é sagrado no Olimpo da sacanagem. O carioca é, antes de tudo, e acima de tudo, um lúdico. Ainda mais forte e mais otimista do que o homem da anedota clássica que, atravessado de lado a lado por um punhal, dizia: "Só dói quando eu rio", o carioca, envenenado pela poluição, neurotizado pelo tráfego, martirizado pela burocracia, esmagado pela economia, vai levando, defendido pela couraça verbal do seu humor.
Só dói quando ele não ri.
Só dói quando ele não bate papo.
Só dói quando ele não joga no bicho.
Só dói quando ele não vai ao Maracanã.
Só dói quando ele não samba.
Só dói quando ele esquece toda essa folclorada acima, que lhe foi impingida anos a fio com o objetivo de torná-lo objeto de turismo, e enfrenta a dura realidade... carioca.
Carioca da gema - João Antônio

Carioca, carioca da gema seria aquele que sabe rir de si mesmo. Também por isso, aparenta ser o mais desinibido e alegre dos brasileiros. Que, sabendo rir de si e de um tudo, é homem capaz de se sentar ao meio-fio e chorar diante de uma tragédia. O resto é carimbo. Minha memória não me permite esquecer. O tio mais alto, o meu tio-avô Rubens, mulherengo de tope, bigode frajola, carioca, pobre, porém caprichoso nas roupas, empaletozado como na época, impertigado, namorador impenitente e alegre e, pioneiro, me ensinar nos bondes a olhar as pernas nuas das mulheres e, após, lhes oferecer o lugar. Que havia saias e pernas nuas nos meus tempos de menino.
Folgado, finório, malandreco, vive de férias. Não pode ver mulher bonita, perdulário, superficial e festivo até as vísceras. Adjetivação vazia... E só idéia genérica, balela, não passa de carimbo.
Gosto de lembrar aos sabidos, perdedores de tempo e que jogam conversa fora, que o lugar mais alegre do Rio é a favela. E onde mais se canta no Rio. E, aí, o carioca é desconcertante. Dos favelados nasce e se organiza, como um milagre, um dos maiores espetáculos de festa popular do mundo, o Carnaval.
O carimbo pretensioso e generalizador se esquece de que o carioca não é apenas o homem da Zona Sul badalada — de Copacabana ao Leblon. Setenta e cinco por cento da população carioca moram na Zona Centro e Norte, no Rio esquecido. E lá, sim, o Rio fica mais Rio, a partir das caras não cosmopolitas e se o carioca coubesse no carimbo que lhe imputam não se teriam produzido obras pungentes, inovadoras e universais como a de Noel Rosa, a de Geraldo Pereira, a de Nelson Rodrigues, a de Nelson Cavaquinho... Muito do sorriso carioca é picardia fina, modo atilado de se driblarem os percalços.
Tenho para mim que no Rio as ruas são faculdades; os botequins, universidade. Algumas frases apanhadas lá nessas bigornas da vida, em situações diversas, como aparentes tipos-a-esmo:"Está ruim pra malandro" - o advérbio até está oculto."Quem tem olho grande não entra na China"."A galinha come é com o bico no chão"."Negócio é o seguinte: dezenove não é vinte"."Se ginga fosse malandragem, pato não acabava na panela"·
"Não leve uma raposa a um galinheiro"."Se a farinha é pouca o meu pirão primeiro"."Há duas coisas em que não se pode confiar. Quando alguém diz "deixe comigo" ou "este cachorro não morde"."Amigo, bebendo cachaça, não faço barulho de uísque"."Da fruta de que você gosta eu como até o caroço"."A vida é do contra: você vai e ela fica".
Como filosofia de vida ou não, vivendo numa cidade em que o excesso de beleza é uma orgia, convivendo com grandezas e mazelas, o carioca da gema é um dos poucos tipos nacionais para quem ninguém é gaúcho, paraibano, amazonense ou paulista. Ele entende que está tratando com brasileiros.
Semente da memória - Heloísa Seixas

Nasci na Rua Faro, a poucos metros do Bar Jóia, e, muito antes de ir morar no Leblon, o Jardim Botânico foi meu quintal. Era ali, por suas aléias de areia cor de creme, que eu caminhava todas as manhãs de mãos dadas com minha avó. Entrávamos pelo portão principal e seguíamos primeiro pela aléia imponente que vai dar no chafariz. Depois, íamos passear à beira do lago, ver as vitórias-régias, subir as escadarias de pedra, observar o relógio de sol. Mas íamos, sobretudo, catar mulungu. Mulungu é uma semente vermelha com a pontinha preta, bem pequena, menor do que um grão de ervilha. Tem a casca lisa, encerada, e em contraste com a pontinha preta seu vermelho é um vermelho vivo, tão vivo que parece quase estranho à natureza. É bonita.
Era um verdadeiro prêmio conseguir encontrar um mulungu em meio à vegetação, descobrir de repente a casca vermelha e viva cintilando por entre as lâminas de grama ou no seio úmido de uma bromélia. Lembro bem com que alegria eu me abaixava e estendia a mão para tocar o pequeno grão, que por causa da ponta preta tinha uma aparência que a mim lembrava vagamente um olho. Disse isso à minha avó e ela riu, comentando que eu era como meu pai, sempre prestava atenção nos detalhes das coisas. Acho que já nessa época eu olhava em torno com olhos mínimos.
Mas a grandeza das manhãs se media pela quantidade de mulungus que me restava na palma da mão na hora de ir para casa. Conseguia às vezes juntar um punhado, outras vezes apenas dois ou três. E é curioso que nunca tenha sabido ao certo de onde eles vinham, de que árvore ou arbusto caíam aquelas sementes vermelhas. Apenas sabíamos que surgiam no chão ou por entre as folhas e sempre numa determinada região do Jardim Botânico. Mas eu jamais seria capaz de reconhecer uma árvore de mulungu.
Um dia, procurei no dicionário e descobri que mulungu é o mesmo que corticeira e que também é conhecido pelo nome de flor-de-coral. ''Árvore regular, ornamental, da família das leguminosas, originária da Amazônia e de Mato Grosso, de flores vermelhas, dispostas em racimos multifloros, sendo as sementes do fruto do tamanho de um feijão (mentira!), e vermelhas com mácula preta (isto, sim)'', dizia.
Mas há ainda um outro detalhe estranho: é que não me lembro de jamais ter visto uma dessas sementes lá em casa. De algum modo, depois de catadas elas desapareciam e hoje me pergunto se não era minha avó que as guardava e tornava a despejá-las nas folhagens todas as manhãs, sempre que não estávamos olhando, só para que tivéssemos o prazer de encontrá-las. O fato é que não me sobrou nenhuma e elas ganharam, talvez por isso, uma aura de magia, uma natureza impalpável. Dos mulungus, só me ficou a memória - essa memória mínima.
Pequeno momento carioca - Catarina Cunha

- Mulher! Liga essa água pelo-amor-de-Deus que eu estou todo ensaboado!
- Ih, homem... Parece que a caixa está vazia.
- Traz um balde, então.
- Nadinha.
- Do filtro. Tira do filtro que eu já estou tremendo e todo ardido nas partes.
- E eu vou cozinhar com o quê?
- E eu vou trabalhar com o cabelo duro e todo escorregando?
- Passa a minha toalha que está úmida.
- Que m@#&erd@ é esta? Um copo d’água?
- Metade para escovar os dentes e a outra para enxaguar as partes.
- E a barba?
- Faz à seco e passa álcool.
Vestiu o uniforme, pegou o engarrafamento de rotina. Descendo do ônibus pisou em titica de cachorro. Chegou ao escritório suando espuma de 40° à sombra. Correu para o banheiro para lavar o sapato e enxaguar a cara. Passou a mão no cabelo duro, olhou pela janela a baía da Guanabara rindo aos pés do Pão-de-Açucar e pensou : Que cara de sorte eu sou.

Crônicas sobre o Rio

Paladino da Tradição – Joaquim Ferreira dos Santos

Desço a Rua da Quitanda em direção à Presidente Vargas. O carro apressado, nada educado, passa rápido, jogando o esgoto que brota do chão nas calças das pessoas. O mendigo sujo pede cigarros e esmolas a quem quer que passe. O PM conversa com o vendedor de bolsas de grifes famosas falsificadas. Parecem amigos de infância. Um protesto tumultua o trânsito. E não há sirene de ambulância que dê jeito de abrir passagem na Rio Branco paralisada. Estou no meio de um inferno. Barulho, multidão, sol do meio-dia, fome… E ainda digo aos amigos que amo trabalhar no Centro do Rio.

Atravesso a Presidente Vargas andando pela frente da Candelária. Lembro-me da chacina inevitavelmente todas as vezes em que passo pelos desenhos das pessoas no chão, uma marca da tragédia para que ninguém se esqueça daquela madrugada de 1993. Do outro lado da avenida o fluxo de pedestres já é um pouco menor. Não preciso mais me desviar de executivos, boys, camelôs e estudantes que entopem o nosso Centro querido. Me abrigo do sol nas grandes marquises que protegem as calçadas. Dobro à direita na Rua Uruguaiana e sigo em frente. Na esquina com a Marechal Floriano, entro num armazém com armários de madeira repletos de bebidas e conservas. Não é um mercado de secos e molhados qualquer. É o Paladino, com mais de 100 anos de vida, de bons serviços prestados à cena etílico-cultural da cidade.

O endereço vive lotado na hora do almoço. O que é engraçado, porque ali não é servido o que se convencionou chamar de almoço. O cardápio mais que enxuto apresenta algumas poucas coisas: uns sandubas, omeletes e porções de frios, além de polvo e sardinhas portugueses enlatados. O que se hoje conhece como boteco, nas suas origens era assim, um armazém que servia umas coisinhas para comer. O chope tirado na tulipa é daqueles que se pode chamar de primoroso. Tem colarinho de três dedos, de creme espesso, copos bem limpos (sim, isso é muito importante, não só em termos de higiene, mas de garantia da integridade da bebida, muito afetada por resquícios de gordura ou detergente) e é servido gelado como manda o protocolo da bebida no Rio de Janeiro.

Quando quero um almoço leve que não seja uma saladinha do Gula Gula do do Delírio Tropical apelo ao Paladino. Hoje pedi, como quase sempre, uma omelete de bacalhau. Fofinha e leve, com muitas lascas do peixe, cebola e salsinha, é regada com azeite português na própria mesa (reparou no brilho da foto?). Mas o garçom leva embora a lata. Peça para ele deixar, mas não é certo conseguir isso. Vai depender do humor dos garçons, dia bom, dia ruim, dia ruim, dia bom. O que pode parecer falha grave no atendimento, na verdade, é parte do folclore de nossos botecos: o serviço tem que ter um quê de ranzinza. Uns pedacinhos de pão francês acompanham e dão mais sustância à refeição.

Há quem coma e beba de pé, no balcão centenário de madeira escura. Porque as mesas vivem lotadas na hora do almoço. Para melhor aproveitar os dois pequenos salões, há pouco espaço entre elas, a ponto de ser uma dificuldade alcançar as mais distantes. No meio da confusão e do aperto, enquanto traço prazerosamente a minha refeição, o garçom gentilmente me pede para passar para a mesa do lado o trio (sanduíche de salaminho, queijo e ovo, um dos clássicos da casa) e a omelete de sardinha. Volta em seguida, agora solicitando minha ajuda no serviço dos chopes. Os vizinhos até me ofereceram, meio brincando, meio de verdade, 10% de serviço.

Só não deixe de levar dinheiro vivo, porque o Paladino é tradicional até o caroço e não se rendeu à modernidade do cartão de crédito. Taí um defeito desse emblemático lugar, que vinha me parecendo perfeito. O pior é que eu sempre me esqueço disso. Dia desses chego lá sem um tostão. Espero não precisar lavar pratos. Se o Paladino é tão das antigas, será que rola um pendura?

29 de jul. de 2010

901 - Notas

1 8
2 8,2
3 7,1
4 5,3
5 7,6
6 9
7 6,4
8 7,9
9 6,8
10 4,9
11 7,3
12 8,5
13 6,4
14 9,1
15 7,3
16 8,7
17 8,7
18 3,9
19 9,8
20 5,7
21 7,4
22 7,6
23 6,1
24 4,5
25 6
26 8,6
27 3,9
28 6,6
29 8,8
30 6,8
31 6,4
32 5,2
33 6,9
34 5

2 de mai. de 2010

Sopa na Travessa?

Outros ingredientes, já que dessa vez o Sopa de Letras será oferecido na Livraria da Travessa.





1 de mai. de 2010

9º Ano do Ensino Fundamental

As 55 cidades (!!) descritas por Marco Polo a Kublai Khan são uma representação daquilo que se obtém por meio da imaginação criadora. Veja aqui o quadro resumo .

A recepção da obra

1ª Série do Ensino Médio

Esta semana, quando falávamos de Literatura como sistema (autor - obra - leitor), vimos que a questão da receptividade da obra está condicionada à visão de mundo do leitor. A imagem (clique nela) que vi em  um livro e a qual me referi para compreendermos a diversidade da recepção foi esta que reproduzo abaixo. A partir dela, vemos que a pintura de Picasso é "lida" de modos diferentes por interlocutores diversos, com experiências heterogêneas, logo concepções  de mundo marcadas por sua singular relação com o universo que os cerca.


                                           Maia, João Domingues. Literatura: texto & técnicas. SP: Ática.1995

1ª Certificação

As provas de 1ª certificação estão se aproximando. A de Língua Portuguesa acontecerá no dia 10 de maio. Sendo assim, a semana de 03 a 07 de maio será momento de apararmos as possíveis arestas, tirarmos dúvidas, relembrarmos o nosso percurso até aqui.
Creio que podemos fazer da semana que vem um momento de consolidação dos conteúdos para que nossa 1ª certificação tenha bastante sucesso!
Aguardem as novidades e bom final de semana!

29 de abr. de 2010

LivroClip Dom Quixote, de Miguel de Cervantes

8º Ano do Ensino Fundamental

Encontrei este vídeo legal sobre o engenhoso fidalgo...

28 de abr. de 2010

Mais sobre Dom Quixote

8º Ano do Ensino Fundamental

O  enredo 2010 da União da Ilha do Governador foi sobre Dom Quixote. Veja a letra cujo samba ouvimos hoje em aula.

"Dom Quixote de La Mancha, o Cavaleiro Dos Sonhos Impossíveis (2010)

União da Ilha (RJ)

Voltou a Ilha
Delira o povo de alegria
Nessa folia sou fidalgo, sou leitor
Cavaleiro sonhador
Meu mundo é de magia
Vou cavalgar no rocinante
Meu escudeiro é Sancho Pança
Se Dulcinéia é meu amor
Quem eu sou?
Dom Quixote de la Mancha

O gigante moinho me viu deu no pé
O povo grita...olé
Nesse feitiço tem castanhola
A bateria hoje deita e rola

Vesti a fantasia, fui à luta
Venci manadas, rebanhos
Fiz de uma bacia meu elmo de glórias
Meus livros se perderam pela história
Enfim, fui vencido pelo Branca Lua
Voltei pra casa esquecendo as aventuras
O tempo ficou com meus ideais
Quimeras são imortais


A  Ilha vem cantar
Mais um sonho impossível... sonhar
Quem é que não tem uma louca ilusão
E um Quixote no seu coração

Mais sobre "As cidades invisíveis"

9º Ano de Ensino Fundamental

Apesar da dificuldade da leitura, pela densidade da obra, creio que não há como não se encantar com "As cidades invisíveis". Veja aqui como a artista americana Nora Sturges as retratou por meio do naif.

22 de abr. de 2010

Terra

Aqui há uma boa reflexão sobre as questões que envolvem o Dia da Terra.


21 de abr. de 2010

Entre o imaginário e o real...

Impossível para mim não associar esse fragmento do romance As cidades invisíveis, de Italo Calvino, ao terror Morro do Buma.

As cidades e os mortos
4

"O que distingue Argia das outras cidades é que no lugar de ar existe terra. As ruas são completamente aterradas, os quartos são cheios de argila até o teto, sobre as escadas pousam outras escadas em negativo, sobre os telhados das casas premem camadas de terreno rochoso como céus enevoados. Não sabemos se os habitantes podem andar pela cidade alargando as galerias das minhocas e as fendas em que se insinuam raízes: a umidade abate os corpos e tira toda sua força; convém permanecerem parados e deitados, de tão escuro.
De Argia, daqui de cima, não se vê nada; há quem diga: “Está lá embaixo” e é preciso acreditar; os lugares são desertos. À noite, encostando o ouvido no solo, às vezes se ouve uma porta que bate."
 (Calvino, Italo. As cidades invisíveis. P. 53)

19 de abr. de 2010

O Museu da Língua provoca seus visitantes ao explicar a lógica por trás dos erros de português




Guilherme Bryan















Instalação traz construções linguísticas condenadas: tributo à reflexão sobre o erro de português. Leia mais aqui.

Todo dia era dia de índio

Como já cantou Baby do Brasil, que já foi Consuelo. Só para lembrar que, agora, eles só têm o dia 19 de abril.

18 de abr. de 2010

Funções da Linguagem

1ª Série do Ensino Médio

Orações Subordinadas Substantivas

9º Ano do Ensino Fundamental

Um resumo das orações subordinadas substantivas aqui.

Ainda sobre variação linguística

1ª Série do Ensino Médio

Selecionei, dessa edição especial da revista Discutindo Língua Portuguesa sobre variação linguística, alguns textos que considero interessantes para vocês saberem mais sobre esse fascinante assunto.

"Ler devia ser proibido"

No dia do Livro, é sempre bom lembrar a importância da leitura, viabilizada por esse poderoso instrumento, ainda que com a modernidade e a criação de outros meios, a prática possa ser efetivada de diversas formas.

17 de abr. de 2010

Leio, logo escrevo

Sonhe, acredite, e realize

Thamires Bragança Florido Ferreira (801/2010)


Todos nós, alguma vez na vida já tivemos um sonho. Seja ele ser modelo, artista, cantor, jogador de futebol, entre outros, mas em nenhum momento deixamos de sonhar.

Nossos sonhos começam a aparecer quando há a descoberta de habilidades ou de gostos. Por exemplo: se uma pessoa sente prazer em cantar, tem uma bela voz e se alguém a incentiva a investir na carreira, poderá então nascer um grande sonho. Eles costumam a começar pequenos e crescerem conforme formos os alimentando. Quanto mais confiança você tiver, maior será o seu sonho.

Ter um grande sonho pode ser muito difícil (dependendo do seu tamanho e da probabilidade de acontecer). Muitas vezes passaremos por complicadas situações. Seremos provados física e psicologicamente durante a longa caminhada até conseguirmos chegar ao topo. Haverá momentos em que nos sentiremos extremamente felizes ou profundamente tristes e desapontados. Haverá aqueles dias em que teremos grandes vitórias ou terríveis derrotas, mas tudo isso faz parte de um grande aprendizado denominado vida. O importante é você não desistir no primeiro obstáculo que aparecer e esse manter forte.

Durante a longa caminhada até o nosso objetivo muitas coisas acontecerão. Ouviremos muitos “nãos” de diversos tipos de pessoas e até mesmo de nossa família. Muitas pessoas enfrentam o problema de não terem apoio nem dos pais, que desaprovam a escolha dos seus filhos. Aliás, que pais aprovam até os sonhos mais loucos de seus filhos? É bem comum ouvirmos deles algo do tipo “Tem certeza que quer mesmo fazer isso?” ou “Não concordo nisso com você. Se quiser consiga sem minha ajuda”. Eles sempre se metem em nossas vidas, pois procuram o melhor para elas. Mas nem sempre o melhor para nossos pais é o que é melhor para nós e isso complica tudo. Tentar seguir um sonho sem ajuda dos pais é muito mais difícil e pode gerar brigas constantes. Nesse caso o melhor a fazer é conversar e entrar num consenso.

É possível escutarmos também pessoas alegarem que nossos sonhos são impossíveis. Não existem sonhos impossíveis. As pessoas é que os fazem ser reais ou não. Depende da sua fé, esperança e capacidade.

Acreditar é a palavra-chave que diferencia um sonho da realidade. Se não acreditarmos em nossos sonhos, nunca poderemos realizá-los. Acreditar é fundamental, ter esperança é indispensável. Por isso digo e repito: nunca deixe de sonhar.





O Gênero Crônica


8º Ano do Ensino Fundamental

Resenha Crítica

1ª Série do Ensino Médio

Variação Linguística

1ª Série do Ensino Médio


Vocês podem encontrar aqui o arquivo da aula de variação linguística.


Também podem ler mais sobre o assunto aqui, onde há mais detalhes do livro mencionado no arquivo de power point.

16 de abr. de 2010

901: escrevendo com prazer

Nada mais gratificante para um professor que observar o empenho de seus alunos em uma atividade proposta. A turma 901/2010 é dessas que nos encantam. Poderia nem mencionar os rostinhos simpáticos e sorridentes que me recebem toda manhã com carinho, mas, além de se empenharem na produção dos ótimos parágrafos de desenvolvimento (nossa aula de hoje), são muito afetuosos e colaborativos, o que torna o trabalho bastante prazeroso.
Tem sido muito bom construir com vocês o texto dissertativo.


9º Ano do Ensino Fundamental

Mais informações sobre esse gênero textual aqui.